Rádio

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Rádios online crescem com o uso de redes sociais e gadgets




Por Thaís Britto

"Sintonizar", "frequência" e "hertz" são palavras quase obsoletas no vocabulário de uma geração que vem mudando a forma de consumir música no Brasil. Foram todas substituídas por "clicar", nosso anglicismo contemporâneo favorito. Parte da culpa por este fenômeno é das rádios online - que, apesar de já estarem presentes na rede há alguns anos, têm se reinventado bastante nos últimos tempos. A moda das redes sociais e o dinamismo de smartphones e iPads estão forçando uma revolução naqueles pobres players antigos, que simplesmente tocavam música.

É o caso da Rádio UOL, uma das primeiras rádios online do Brasil. Quase dez anos após sua estreia no "dial virtual", em 2000, ela sofreu uma repaginada ano passado. Agora, as playlists e os programas podem ser compartilhados via Orkut, Twitter e Facebook, de onde, inclusive, a rádio emprestou o botão "curtir", que coloca as faixas favoritas do ouvinte diretamente em sua página na rede social. Com mais de cem canais, que vão da bossa nova às coletâneas, passando pelo indie rock e o axé, a rádio é uma das mais plurais da rede. Abrangência e interatividade são as palavras chave para o negócio, segundo o diretor de Showbiz da Uol, o norueguês Jan Fjeld:

- O grande lance da rádio online é que ela pode ter tudo, e o usuário vai segmentar do jeito que quiser.

Entre as brasucas mais recentes no mercado, a Rádio Skol foi criada em dezembro passado e já colhe os louros do formato. Em maio, o número de acessos cresceu 200%, quando comparado ao mês anterior. Em junho, foi a vez de lançar um aplicativo para iPhone e iPod Touch que, além da rádio, ainda oferece agenda de shows e eventos, acesso ao Twitter e vídeos da marca, alguns deles virais produzidos exclusivamente para a internet. Segundo o gerente de comunicação da Skol, Ricardo Marques, a iniciativa foi essencial para atender às demandas do público.

- A internet tem esse poder de segmentação on time, que é importante para manter contato com o nosso público, que é jovem de espírito, antenado e irreverente e, por isso, divide opiniões e experiências de forma instantânea.

Praticidade é mais uma na lista de palavras importantes para explicar o crescimento do consumo das rádios online. A jornalista Larriza Thurler é um exemplo: usa a internet para juntar trabalho, música e informação no mesmo pacote.

- Escuto sempre durante o trabalho, pois é uma maneira de me concentrar quando escrevo, bloqueando o barulho ao meu redor. Além do mais, acabo não ficando tão alheia ao que está acontecendo, com os comentários dos locutores - explica.

Já o coordenador de Novas Mídias Thadeu Avila, de 27 anos, vê uma série de vantagens nas webrádios. Experiente no assunto, ele traz o hábito de ouvir música na rede dos primórdios do IRC (aquele mesmo, o MSN dos anos 90), quando os usuários de canais de música criavam playlists pelo Winamp e distribuíam pra quem estava online no momento. Tudo isso com conexão discada. Diante da experiência nestas condições adversas e quase pré-históricas, claro que ele é só elogios para o formato atual:

- As rádios exclusivas de internet podem ter uma autonomia artística muito maior que uma rádio de dial com pressão comercial. Elas podem atender nichos específicos de música. Além disso, esse movimento de interatividade e compartilhamento é extremamente válido. Tenho vários aplicativos instalados no meu iPhone e escuto muitas vezes por aí, principalmente a last.fm e a Oi FM. Mas isso tudo é só quando a bateria deixa - brinca Thadeu, um dos muitos a sofrer com a duração das maquininhas de Steve Jobs...

A rádio Oi FM é um dos melhores exemplos do conceito multiplataforma. Presente no dial em diversas cidades do Brasil, ela é forte na internet, onde conta com outras dez rádios temáticas. Além disso, os players de todas elas podem ser executados em celulares por meio de um aplicativo disponível para iPhone e sistemas Symbiam, Windows Mobile, Blackberry e Android.

No mês passado, o portal da Oi FM foi reformulado e passou a incluir os famosos recursos de compartilhamento com as redes sociais. Em breve, entra no ar a Oi Fm exclusiva para web, reunindo programas de todo o país.

- Há ainda a previsão de um serviço que permitirá ao cliente montar sua própria playlist e compartilhar com os amigos, no segundo semestre - revela Flavio Carneiro, diretor da Oi Fm.

Mas se o consumo está consolidado e as atualizações para atender às demandas vêm dando certo, a parte financeira é o fator que corre por fora. Como ganhar dinheiro com publicidade nas rádios online é a pergunta que permanece no ar. Na opinião de Carneiro, a resposta está no modelo multiplataforma:

- Atualmente, o anunciante compra um projeto que envolve a rádio convencional, o SMS, o site e a webrádio. O volume de anúncios apenas para as rádios online é pequeno. A tendência é o veículo ganhar força à medida que sobe o número de pessoas conectadas através de celulares.

Coordenadora das webrádios do Sistema Globo de Rádio (SGR), Viviane Aben-Athar concorda. A empresa tem uma equipe comercial especialmente para criar estas campanhas.

- A gente desenvolve pacotes para os anunciantes com a maior quantidade possível de recursos: áudio, banner no site e torpedo SMS, entre outros - afirma.

O portal da SGR reúne quatro canais: a Globo FM, que migrou da frequência 92,5 do dial para a rede há cinco anos, e três rádios em parceria com a Globosat: Multishow Fm, GNT Fm e Zona de Impacto. Em junho, elas tiveram seus layouts reformulados. Mais dinâmico e interativo, o novo projeto pretende destacar - adivinhem? - as redes sociais.

- A resposta é muito imediata porque o ouvinte sente que a webrádio é dele. E nós incentivamos isso com widgets como a que permite instalar o player em qualquer site ou blog - conta Viviane.

A estrutura da Globo FM e da Multishow FM é muito parecida com a de uma rádio de dial, com estúdio e locutor ao vivo durante o dia. Mas isso não irrita o público de internet, que prefere ouvir mais música? Segundo Thadeu Avila, há hora para tudo:

- Para mim, quanto mais música melhor. Mas é interessante também ver uma banda que você curte sendo entrevistada ou um DJ fazendo uma apresentação ao vivo.

Talvez ele conheça o programa da historiadora e DJ Pollyana Assumpção, que comanda o "Na Pixxxta com DJ Polly" todos os sábados na webrádio The Music Dude.

- Faço um programa de hora e meia como se fosse um set de festa mesmo - explica a moça, que também é fã do formato - Desde que descobri o last.fm, em 2005, ouço rádios online. As grandes vantagens são poder escutar rádios com tema específico, conhecer artistas novos ou que nem estão em gravadoras e poder ouvir em qualquer lugar que eu esteja, sem me preocupar se a rádio pega ou não.

Fonte: O Globo


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