NELDSON MARCOLIN | Edição 215 -
Janeiro de 2014
Ao procurar material antigo sobre a Rádio Gazeta de
São Paulo (1943-1960), Irineu Guerrini Júnior descobriu por acaso o que
classifica de “verdadeiro tesouro”. Ele achou cerca de 8 mil páginas de
roteiros de programas de rádio e televisão escritos entre 1941 e 1956 por um
dos grandes roteiristas do período, Túlio de Lemos, nome que caiu no
esquecimento. Os milhares de folhas mimeografas estavam armazenados na
biblioteca do Museu Lasar Segall, especializada em comunicação, e haviam sido
doados provavelmente há décadas por parentes. Guerrini, pesquisador do Centro
Interdisciplinar de Pesquisas da Faculdade Cásper Líbero, começou então um
trabalho de análise dos roteiros que resultou no livro Túlio de Lemos e seus
admiráveis roteiros: rádio, arte e política.
Lemos (1909-1978) foi um promissor cantor de música
lírica nascido em Ponta Grossa, no Paraná, que desistiu da carreira depois de
ter tuberculose óssea. Fez carreira como radialista em São Paulo, especialmente
na Rádio Tupi e na TV Tupi, ambas do grupo dos Diários e Emissoras Associadas.
Na rádio, escreveu centenas de roteiros; na TV, pelo menos dois programas
roteirizados por ele causaram sensação nos anos 1950: Antarctica no mundo dos
sons, superprodução musical que ia ao ar aos sábados à noite, e O céu é o
limite, com perguntas e respostas, baseado no americano The 64,000 dollar
question.
Uma das características dos roteiros analisados é o
uso contínuo da dramatização, “mesmo aqueles que documentam aspectos da
realidade da sua época”, com personagens, música e efeitos sonoros. O
pesquisador também lista outras propriedades dos roteiros de Lemos: inovação da
linguagem radiofônica, crítica social e de costumes, reflexões sobre o próprio
rádio e tratamento inventivo dos temas musicais. Sobre esse último item,
Guerrini conclui: “Túlio praticamente esgotou os usos possíveis de música no
rádio, ao menos nos limites estéticos e técnicos do seu tempo”. O livro é uma
boa – e rara – contribuição à história do rádio em São Paulo.
Fonte: Fapesp
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